quarta-feira, 12 de março de 2008

Indisposta pra Maquiagem

Chegou à hora do imediato irreversível irrevogável.
O rangido da porta fechando anuncia em trilha sonora.

Réquiem para o momento esperado, provável, protelado.
Objetos sem vida agora estáticos arautos de tantas intimidades cotidianas.

O frio do fogo-morto da lareira sem vida.

O Nazareno, na parede, abandonado pela autoridade divina,
não responde...
Espera pacientemente pelas palavras corretas.
Apenas um humano pregado a dois pedaços de madeira.

Nem cor, nem som, nem braço,
Longivamente apenas áspera cadeira altruistamente estende seu bucólico cansaço.

Mau cheiro, poeira, flores de pétalas pendentes ao solo. Reclinadas como viúvas cansadas, indispostas para maquiagem.

Falta do porvir, nostalgia do que não foi, fragmentos seccionados no espaço. Subjetividades intraduzíveis em profundas cicatrizes sob marcas intermitentes digitais de um último abraço.

Tudo um dia se põe... Tem que ir...

Junta a roupa, baixa o armário démodé, muitas gavetas... Muitas gavetas...

Lembranças... Em tendências “vintage” da moda vacilam.

Lingeries experientes, camisolas coloridas, calças bem vividas,

E as traças conspiram...

Chove lá fora.

Gotículas fugitivas: o balde contém, o travesseiro transborda.

A vida segue, deve seguir.

Banheiro pesado, banho abafado, o chuveiro cansado, o pêlo grudado ao sabão não enoja... Recorda.

A Fantástica Fábrica de Chocolate


Catatônica televisão: crimes banais, dilemas patriarcais, conversas de botas batidas de colméia, zangões, abelhas, flores de Eucalipto ou Laranjeira e incontáveis jardins triviais.

Arquétipos e status, um carro novo ou sapatos que amargam carnês e adoçam a vida.

Frases de efeito, mensagem subliminar.
Estratégia antiga.

Saúvas na Terra da música.
Gafanhotos que não sabem cantar.

Propagandas de açúcar

Pra homens-formiga.