quarta-feira, 28 de abril de 2010

Verbalística

O lirismo é a arma.

Vem sorrateira do plano imagético

enche o peito hipotético e dispara matadeira palavra-projétil.

Vítimas transcendem estatísticas, alvejante  

intifada correndo em fogo cruzado e - jamais -,

desemerecendo o "tiro ao Álvaro",

sempre tem onde furar.

Discurso-escudo,

de nada,

Vale,

em vão,

inunda.



O projétil, citado, corta o vácuo, 

termo-guiado - no vazio se propaga -,  

ao calcanhar de Aquiles.

E se a arma lhe falha, mestre no rabo de arraia, 

puxa da manga, em riste, a tenra a navalha e

dá chá de sumiço.

O segredo é de Estado, o ofício arriscado:

segurar o atômico disparo da Pandora anímica.

O agente sem nome.

  Verbalística.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Prova de laço.


Qualquer fogo fátuo me apeia ao cavalo agita meu prolixo laço.

Segura peão! 


Corcoveia no arreio aperta a palma no freio que o bicho é do bão!


Gineteio na prosa espeto a espora e amanso a chucra boiada.

Frio na barriga é pra traço de Maria guria.

Há ouriço na medula!

Oh! Se há!!

sábado, 24 de abril de 2010

Cotidiano.

Todo o lirismo verteu.

Extensa sangria.

Tentei conter gotículas várias com as mãos.

Tudo escorreu.

Um gesto cálido impedido na paliçada. 

De repente, lhe falei, assim...

E me refletiu uma gramática fria em meias palavras.

Insípido óbvio virtual.

Nenhuma derradeira centelha que me acenda.

Oxigênio raro resíduo umbilical.

Esmoreceram as pautas.

Da euforia mágica do enrendo.

À apatia trágica do engano.

Formalidade diplomática.

Gentileza burocrática.

Fósforo riscado.

Cotidiano.

sábado, 17 de abril de 2010

Tédio.


Muita pressa ao que não passa. 

De repente, tudo no Mundo é cheio de nada.

Vagueio do tédio a carcaça.

Por aí.

Sempre da sombra em pós.

Beletrismo


Se tu, infortúnio tácito, 

por ventura da.

Meia sorte sem, 

transitando por.

Topar com, 

tudo era então.

  A víbora inominável.

Por deveras.

Era uma vez...

[shshshsh vou falar baixinho... 

Deita-te e desfruta interstício dos moribundos.

Pobre mortal, estarás fulminado em segundos.

Pois nenhum soro anti-beletrício salvar-te-á.]


Mas, te cuida com.

O perigo espreita.

[Pedantes apedeudadores de Aurélio.]


Sobejamente há.

[Amantes do labirinto,

bebedores de cera.]


Loquacidade simulacra.

[Nunca terão asas de Quetzalcoatl.]


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Utopia Concreta


Das profundezas trevas da minha loucura racional

ainda me acho no direito de suportar algumas ícaras verdades.

Não, não creio no impossível!!

Meu rijo passo - cálido cinza - abrasa mistério crasso do dragão.

Prometeu e a mônada roubada!

Ao pó o utopismo!

 Prisão ao idealismo!

Rostos sem rosto de panacéias mutiladas.

Quero as coisas simples, verdadeiras e brutas!

Não, não creio no impossível...

Só creio no indefinível caleidoscópio de infinidades!

Mar de pólen e o brilho que tsunami teu olhar.

 Aperto o afago e tranço o cordaço ao rangido de dentes.

 Sapateiro às galochas das dores.

Cachoeira invertida alimenta retina e só o que é possível.

Concreto, régio, tangível.

Subversão do inadmissível pelo tirânico idílico apocalipse das flores.





domingo, 11 de abril de 2010

Hipocondriaco

Metafísica absurda.

Janela-estância aberta do meu quarto-quadro irreal

Respiração ofengante, 

eterna luta inconstante entre gigantes feéricos.

Daqui, vejo um mar de cruzes de vasto cemitério.

Ah... Meu plano imagético.

Real-abstrato. 

Absurdo-hipotético.

Hermenêutica da vida.

Na mesma trilha de fogo deixada pelo amor

Se chamusca a poesia:

aquece...

queima...

congela as visceras.

Conteúdo ácido.

Asia.

Ou asma?

Gangrena?

Anemia?!


"A anemia é a diminuição dos níveis de hemoglobina na circulação. A principal função da homoglobina, uma proteína presente nas hemácias, é o transporte de oxigênio do pulmão para os tecidos e vias várias."  http://pt.wikipedia.org/wiki/Anemia



Fato!! Pois me falta o ar além das luzes da ribalta!

E, as estranhas alterações da frequência cardíaca?!

Isquemia?

Infarto?

Insuficiênia?

Taquicardia?!


A poesia é o ungento pro estar indisposto?

Mais um caso patológico.

 Alfarrábio diletante sentencia.

Um caso típico de auto-medicação, 

a busca pela cura doentia sem prescrição:

Hipocondria.



terça-feira, 6 de abril de 2010

Mensagem

Impávida atirou o espelho ao chão e se auto-mutilou. Pra ver o sangue jorrar. Pra sentir a própria dor. Deslizou as unhas sobre as feridas num auto-flagelo, tentado espremer as últimas gotas próprio coração. Sentada olhava o sangue escorrer, quase desfalecendo de dor, rasgada . Ao invés de admirar o mistério da beleza sublime de um pôr-do-sol à beira do mar, prefriu atirar-se ao solo, ser invadida por tatuíras inflamadas. 

E, o que resta é sentar aqui, e ver-te vertendo. 

Te carregaria nos braços, certamente, até o ápice da exaustão. Mas, decidiste caminhar sozinha, mesmo que cambaleante. Certa vez, creio que falei sobre "muletas", às quais usamos para nos apoiar uns nos outros. Que analogia infeliz...  Tosca. Realmente, temos a péssima tendência de projetarmos tudo  nas outras pessoas, tornando-as escoras pra nós mesmos. Mas, será que não é assim mesmo? Nos apoiamos uns nos outros até conseguirmos aprender a caminhar sozinhos. Humanos, enfim, necessitam uns dos outros. Apoiados seguimos em frente, suportando o insuportável. Aprendendo a andar de mãos dadas, e não escorados. O amor está em tudo. Na solidão absoluta, restaría-nos o ostracismo da loucura. Precisamos apenas, creio, buscar essa clareza de nossas ações, e burilá-las aos poucos.

Minha linda (não leve na literariedade o pronome possessivo, cada Ser é livre e só pertence a si mesmo, por certo), é um caminho árduo aprender a caminhar sozinho. Mas, um dia aprendemos a "sutil diferença entre estender a mão e acorrentar uma alma. Que beijos não são contratos...". Somos crianças ainda, tão apegados aos nossos próprios desejos. Sofrer, definitivamente, não é "amar demais". E, também não quero que tu me ache pretencioso falando essas coisas, embora às vezes seja, por dizer que sofrer não é muito mais que a exacerbação do nosso próprio Ego. É por perder aquilo que acreditamos ser nosso, ou destinado a nós por alguma conjunção astral, que sofremos tanto. E, até por isso, normalmente, só sentimos quando realmente ficamos sós, ou a perigo. 

Após, temos também a dolorosa tandência a chafurdar nas próprias feridas, como que querendo achar motivos-motivos, arrancar mea-culpas. Na verdade, supervalorizando o próprio sofrimento. Mentindo inconscientemente a nós mesmos.

O amor é livre, minha linda, incondicional. Das profundezas da minha loucura racional ainda me acho no direito de suportar algumas verdades. E, enquanto não percebermos isso, estamos à merce dos impulsos egoístas. Se realmente amamos quem se foi, temos que compreender que aquele também é um Ser em busca de sua felicidade, e que a felicidade de quem amamos não pode nos trazer tristeza, mas só alegria e, também, felicidade. O amor é sempre caminho, nunca fim. Sempre nos preenche, nos conecta a tudo.  Querer só por querer bem, sem querer, entende? Quanto mais gotículas-mãos-dadas com o mundo, maior nossa compreensão sagrada sobre tudo. 

Lá no fundo, quem sabe tenhas medo de ser esquecida, uma a mais, fósforo riscado. E, é realmente muito triste ser esquecido por quem tecemos afinidades, que construímos um pouco do que somos hoje. Mas, cada um guardará dentro de si todos os momentos. Em cada passo da vida, até fenecermos, eles estarão conosco, porque talharam o que também nos tornamos. É triste ter que esquecer algo que foi belo, significativo.  Mas, não creio que precisamos esquecer, apenas achamos que precisamos, pra arrancar de dentro de si as carnes laceradas. Quando quem se auto-mutila é agente mesmo. Depois que isso fica claro, depois do escuro onde nos metemos pra fugir de nós mesmos, vemos que nunca esqueceremos, e poderemos ohar pro passado com doçura, e felicidade pelos bons momentos vividos. Aí, estamos prontos pra andar de mãos dadas com outras pessoas, sem a necessidade de se apoiar nelas, ou ao menos só vez em quando, ninguém é de ferro, enfim. Com a segurança e firmeza de quem também pode, agora, carregar tantos outros, elevando o amor a um patamar sempre se pondo, indo além.

Eu sei, às vezes sou meio tosco. Mas tosca também minha barba, que tocava em teu rosto naquela noite infinita... Sonhei com você essa noite. Nenhum sonho erótico, calma... Quando acordei me vieram todos esses pensamentos à cabeça. Como o Caio mesmo dizia, parece que, às vezes, somos apenas um canal. 

Certamente, isso é uma das coisas mais sinceras que já escrevi, e senti que precisava ser dita, mesmo correndo o risco de ser mal compreendido. Sem estética, só o que brotou do que há de mais puro em mim. Estendo os braços pra provar-te a inocência.


Só te quero bem,


Grande beijo.