quinta-feira, 9 de junho de 2011

Em Busca da Terra do Sempre


- Eu conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu : « Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério ! » e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo! 

- Um o que ? 

- Um cogumelo!!                                             
             – O Pequeno Príncipe

Cada interrogação áspera de esperança...
Para onde foram todos os vaga-lumes?!

E os tatu-bola?!

Caçar vaga-lumes... Nossa, não podia haver mais metafísica do que o neon no traseiro daquele bichinho. Coisa mágica,  esplêndida, inexplicável!

Lembro dos tatu-bola, micro-tanque de guerra e sua defesa impenetrável. Bulitas delicadas, escondiam-se de vergonha e eu esperava até o efeito da sua magia passar.  Regredira, enfim, em sua trasmutação cotidiana.

[Lembranças, uma assunção de sussurros…]

Os adultos só podiam ser cegos por não verem aquilo!
Tão sujeitos Todos passando com sua muita pressa ao que não passa. Cascudos que não acham canto. Importa é o que ganham e a barganha que sobra de uma vida Barata. Tributáveis passos cinza em meio a seus prédios. Da velha euforia mágica do enredo à apatia trágica do engano: formalidade diplomática, gentileza burocrática. Fósforo riscado. Cotidiano.
Opa, eu ia falar sobre cuidar da vida, me perdi... Mas, será que preciso falar sobre planos hiperbólicos?

As verdadeiras revoluções acontecem aqui dentro.

Lá, naquele lugar... Onde moram todos os sonhos irrealizados. Aquele casarão onde a imaginação é real e onde o real é metáfora em algum momento perdido. Onde não há escadas que se desfazem aos pés, onde não há olhares de reprovação; dedos inquisitores apontando em sua direção. Onde tudo que foi desfeito, tudo que não realizamos, o incompleto - se torna real. Os banhos de chuva que não tomamos, as vezes que não saímos porque fez mal tempo, as flores que não mandamos por medo de reprovação, aquele beijo (violento depois de uma discussão) que não aconteceu, a última mulher a ser amada que não veio, a vida que não tivemos. Eu o encontrei esse lugar. Mas, na verdade, sempre soube onde ele estava. Porque a eterna criança em mim sempre subia ao sótão pra ficar sozinha e brincar com a quinquilharia acumulada dos anos. Os sonhos encaixotados, intenções empoeiradas, paredes com corações e nomes dentro, juras de amor eterno, avatares perdidos no tempo... Achei esse lugar, mas nem sempre posso ir até lá. Só quando fujo do mundo adulto por debaixo das mesas do cotidiano e subo as escadas. E, sorrio porque vejo que você está aqui também, e brinca comigo. Em algum momento perdido nos divertimos com o caleidoscópio da vida rotineira. Vemos o mundo real como crianças na sua traquinagem ingênua: pelas frestas...

[nota mental: me perdi de novo...]

Pois é, talvez, o nome “Terra do Nunca” fosse mais apropriado pra realidade supostamente coerente que fomos aprendendo. Nunca fale com estranhos, não aceite nada de estranhos, não engole o chiclete (gruda nas tripas), homem não chora, não brinque com a comida, não beije o cachorro - pára de rolar no chão-, não veja TV de madrugada, não saia na chuva, não tire notas baixas, não culpe a professora pela nota, nunca ultrapasse a dosagem prescrita, não fale em excesso, não reclame do emprego (tanta gente desempregada), nunca “dê” no primeiro encontro, nunca faça algo que vá se arrepender. Seja um homem sério, de bom senso, respeitável. Cuide de sua vida!

Não tinha parado pra pensar na simbologia da história do Peter Pan. O menino eterno que é perseguido por um crocodilo com um relógio na barriga fazendo tic-tac, tic-tac... Non-sense à primeira vista. Nunca li nada a respeito, mas, talvez, o crocodilo represente próprio o Tempo, cuja têmpera da inflexibilidade a tudo persegue e devora. Que nos faz fugir incessantemente. O “tic-tac” que não nos deixa esquecer disso: o corpo decompõe aos poucos. Penso que se o crocodilo (o Tempo) pegasse o Peter Pan, a história terminaria com um adulto acordando de um sonho, com o relógio despertando às 6:30 de uma segunda feira. Hora da vida adulta.

E o Capitão Gancho? Parece não ter nada mais interessante pra fazer do que perseguir algumas crianças voadoras. O Capitão Gancho é protótipo do adulto, que transforma a vida das crianças num inferno. Sim, porque todo Paraíso infantil vira inferno quando um adulto entra lá. Mas o “tic-tac" também o persegue. Porque o Tempo persegue sem distinções. O Capitão é o adulto da história, o Tempo já lhe abocanhou algo essencial, ficou mutilado, incompleto, como todos nós. Todos obcecados agora, como ele, por tantas coisas sem sentido.

Peter, a eterna criança, poderia simbolizar o espírito mais belo que temos dentro de nós. Mesmo o adulto mais carrancudo já foi uma criança sorridente um dia. E ela continua lá, escondida, em algum lugar. Aquele espírito de aventura, fantasia e simplicidade que nos falta na vida cotidiana às vezes. Aquele olhar desperto à eterna novidade do mundo, que vamos perdendo com o tempo. Mesmo as coisas mais belas vão começando a passar desapercebidas, virando rotina, até que já não as vemos mais.

Talvez tenhamos muito mais a aprender com uma inocente história infantil. Que, ainda, no mundo, pode haver imaginação e aventura, ingenuidade e sonho. O falar sincero. O olhar gentil.  O amar direto. Porque toda a fantasia, a aventura que nos falta no dia-a-dia acabamos projetando em entretenimento barato. Os amores impossíveis, as sublimações de honra e verdade, as aventuras heróicas, a felicidade eterna. Tudo o que julgamos não sermos mais capazes encontramos representado em Hollywood e arredores.

Quem sabe um pouco de pó de “pir lim pim pim” na vida cotidiana resolvesse. Mas adultos não enxergam o pó mágico. Ficam com a sensação de que nada é suficiente. Insasciedade constante, vontades inexplicáveis, buscas desconexas, carros maiores, celulares menores, um carnaval de identidades e a felicidade em 10 vezes sem acréscimo. Espelhos em cacos, insetos, tácitos narcisos em pedaços, buscamos reflexo.

De repente, a gente se dá conta, se torna um estranho pra si mesmo. Fica cego.

Tentamos, no mais das vezes, preencher uma lacuna que se fez. Que ficou em algum lugar do passado. Esquecida.   Onde moram todas as crianças perdidas: Na “Terra do Nunca”.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O tempo pesa e o corpo encorpado padece, 

Fenecem os motores táteis e revertem os sentidos

o lirismo floresce,

Venelhecendo.

domingo, 29 de maio de 2011

.Estranho

 Penso nesses sujeitos Todos.
E, no que fosse daqui há anos.

O sentido de laços soltos,

e a recusa que traço no entanto.

Cada interrogação áspera de esperança.

E, as pessoas, já não se estranham.

- cascudas que não acham canto -

Importa é o que ganham

e a barganha que sobra de uma vida Barata.

Pela cidade


Tributável passo cinza em meio a seus prédios.

Todos passam com muita pressa

e a pressa não passa. 

Aquela impávida estátua morreu de tédio?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Orestes



Cada traço, traço in verso refletido.

Mônadas desgarradas, 

um alfabeto de mãos dadas,

com Eumênides ou o Destino.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Superealismo


Tem dias que sou acometido por hidroelétricas emoções de vaca.

 Peso pensamento fincado no pasto.

Nada importa o absurdo de Tudo ou o absurdo que Tudo que faça.

Malhas pretas e brancas ruminando sonolentas

o repasto se movendo ao vento. 

É só um interstício aqui dentro.

Num tom de laconismo que passa.

sábado, 30 de abril de 2011

A ventura no vento.

Absinto-me tácito aqui.

Expresso desejo de um corpo que não é só.


Seguindo a estrela do Inverno que vai do Outono a pedra, ao pó.

Só. 

Sem destino.

Migalhas de pão são para os ditosos. 

Minha loquacidade não é pré-natal

Observo.

Assino: enfático oposto a espermatozóides verbosos.

Todos têm medo da profundidade dos sentidos.

Vera vertigem

Vermes escroques de abismos.

“Navegar é preciso?”

Sem tempestade seus naufrágios são mal sucedidos.