domingo, 23 de setembro de 2007

Especial ou espacial?

Vinda em uma semente espacial não se sabe d'onde
Perdida das mãos dos Deuses
Uma centelha divina que germina e ilumina o mundo com sua infinita beleza.
Um corpo etéreo que levita, dança em meio aos viventes que se arrastam pesadamente, cegos à tudo, indiferentes.
Só mesmo alguns poucos videntes tem o prazer da epifania extraterrena.
Teu canto ecoa além das luzes da ribalta,
Nem o vácuo pra ti é obstáculo: princesa astronauta.
Despreza a gravidade mundana, entre o céu e a Terra alternando as pautas.
Conjução astral de eternidades imensas,
Não discordarei do que tu pensas... tu és espeicial...


terça-feira, 18 de setembro de 2007

Ando cansado... tecendo mortalhas à fantasmas que velam emoções defuntas. Lembranças num teatro estranho do passado... Cinzas em uma garrafa lançada ao mar, não resta nada. Vejo a estrada de volta pelo retrovisor do meu mundo inverso. Sim, inverso pois andamos em contagem regressiva na direção ao fato sem explicação que é marca do nosso estranho destino sobre a Terra. E o que há de tão monstruoso sobre as palavras não-ditas? Fetos rejeitados de histórias desconhescíveis que poderiam ser escritas. Linha e agulha ligeira sobre feridas que não se vê. Mas essa é a questão: quanto de mim se perde entre pontos, vírgulas, exclamações, alguns erros de gramática e uma grande interrogação? Uma mensagem em uma garrafa vagando ao acaso, na solidão. Um pedido de socorro ao mundo. Fácil escrever profundamente aqui no que há lá dentro. Basta um ponto, nova linha, travessão...

sexta-feira, 14 de setembro de 2007


Ele era aquele que adorava tomar banho de chuva. Escolher os bombons a dedo na caixinha, separar as balinhas vermelhas (sim, sim, ele era o único que não gostava das vermelhas!), comer leite em pó de colher, brincar a tarde inteira. Aquele que ficava horas olhando para as estrelas, sem saber exatamente por quê, apenas porque era divertido... Caçar caga-lumes, nossa era o máximo! Não podia haver mais metafísica do que a luz que saia do traseiro daquele bichinho, coisa fantástica, inexplicável, mágica! Os adultos só podiam ser cegos em não verem aquilo... Era aquele que fazia coisas idiotas, só pra chamar a atenção, ser notado. Aquele que fazia vários planos mirabolantes de como iria conversar com aquela menina, e que na hora nunca conseguia, não saía nada, aquele frio na barriga era terrível! Ah sim, as meninas, quando gostava de alguma sempre achava que seria pra sempre, como se fosse... Era aquele que nunca entendia porque os adultos brigavam tanto, e faziam tantas coisas idiotas. Mas, mesmo assim, sempre tinham verdades para tudo... Achava bobagem eles trabalharem tanto e se divertirem tão pouco. E o pior, quando tinham tempo, não sabiam o que fazer com ele... Ele não queria ser adulto. Sim, sim, era aquele que ia pras festinhas e tinha vergonha de dançar. Ele não sabia dançar ora bolas! Não que não pudesse enganar um pouco, mas também achava aquelas dancinhas coisa muita embaraçosa. Mas, os planos mirabolantes continuam... E hoje, ele se deu conta de que os adultos são realmente idiotas. E pior, idiotas que aprenderam a dissimular muito bem. Que ainda brigam por qualquer coisa idiota. Mas, mesmo assim, ainda tem verdades para tudo: trabalhar, comprar, gastar, empurrar as dívidas... Ainda não vêem como é divertido deitar no chão e olhar as estrelas. Claro, para eles isso soa como algo meio bobo, idiota... Mas eu digo que bobo mesmo é trabalhar seis dias e na sua folga assistir novela! Faustão! Show do Milhão! O que você faz com o tempo que acha que é realmente seu? De repente, a gente se dá conta.... Não se reconhece mais... Se torna um estranho pra si mesmo... Fica cego...

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Domingo 02-09-2007

Gostaria de ter escrito um diário quando criança – em segredo obviamente -, porque só as meninas escreviam tais. O diário é um amigo que sempre ouve nossos segredos, e o melhor, não conta a ninguém. Depois de adultos, quando sentimos falta de falar com nossa própria consciência, confessar pra si mesmo inquietações, vamos ao Psicólogo.
(nota mental: já que não gosto de Psicólogos tenho meu próprio diário secreto)

Sempre amei os domingos. Sempre foi uma relação quase mágica. Quando pequeno acordava cedinho e ficava sentado na porta de casa absorvendo a luz da manhã sentindo aquele misto de calor e friozinho... “easy like a Sunday morning...”. Depois de adentrar ao mundo adulto e me tornar plenamente capaz, as noites de sábado passaram a ser muito bem aproveitadas e nem sempre acordo digamos muito cedo. E há uma inversão que se fez. Passei a não gostar de domingos à noite. Domingo à noite é o “fim-de-feira”. Tudo que podia ser aproveitado já foi. As distrações, emoções, compulsões... Cabosse... Amanhã é segunda-feira...Um buraco negro interno pede passagem, vontade de sair correndo... Então corro e divido minha inquietação fingindo que vós não estão lendo. Rebobino a fita K-7 do (sim, sim... sou da antiga) tempo e penso... penso na vida.
(nota mental: voltar a fita com caneta Bic dá uma trabalho...)

Bem, quem diz que é bom ser sozinho sempre diz uma meia verdade. E que, pra maioria, a vida de casados abençoados por Deus, é uma vida pela metade. A verdade é que nunca quis ser “marido”. Sempre tive a sensação disso e não sabia por quê. Claro! Quero ser Amante! Amante da vida, das amizades, das paixões tsunâmicas que violentamente em irrupções vulcânicas arrasam a cidade.
(nota mental: ainda acho que a Florbela Espanca é minha alma gêmea)

Marido dá bitoca de boa-noite. Amante dá mordida de bom-dia.
Marido ronca. Amante não dorme.
Marido pega na mão. Amante pega no colo.
Marido reclama do trânsito. Amante escorre pelo câmbio a mão delirante...
Marido faz “papai-e-mamãe”. Amante atira na parede e...

(nota mental: atirar na parede “e...” é o oro do bizorro)

Calma Apostólicos Pentecostólicos da Igreja do Circular do Triângulo Redondo. Não irei incitar a pueril juventude a exorcizar o santíssimo sacramento da união divina entre dois seres abençoada e executada pelo legítimo representante divino na Terra incumbido de tal sagrada função espirituiliooosa...
Apenas descobri que não quero a “metade de laranja” nenhuma. Quero sim, um morango inteiro ou ao menos, uma bela maçã mordida. Não quero um caro símbolo estático nos dedos. Quero mãos tensas, toques trêmulos. Não quero uma cerimônia com testemunhas. Quero uma festa com cúmplices de todas nossas belas histórias, ou dos desejos inglória, inconfessáveis loucuras...
Não quero certeza. Quero medo. Teus olhos, teu corpo, teu desejo. Que atrás do teu rosto, teu batom, se guardem todas nossas desmesuras, nossos segredos. Não quero barriga estufada, mesas fartas, sofás gastos. Quero o ventre livre e leve. Aquele friozinho de barriga produzido pelo vôo hipotético de pequeninas borboletas árticas. Não quero reclamações por impontualidade. Quero sim, me arrumar pra ti, exagerar no perfume, euforia, olhos cravados no relógio de ansiedade. Aquele sem jeito dos primeiros encontros: respiração ofegante, coração tropeçante, a alegria inconstante na beleza de estar... Amante.

(nota mental: não sei como ainda hoje perco o jeito, fico bobo, esqueço o planejado, disfarço, olho pro lado, não sei o que falar direito.)