terça-feira, 24 de agosto de 2010

Lobo da estepe

Não gosto de coisas descritivas.

Prolixas.

Esmiuçadas.

Aterros em sentidos mares.

Prefiro a palavra aflitiva, 

lacônica, 

solitária, 

onomatopéica.

Aceito tudo que é contra-indicado, 

até coliformes das penas.

Bebo e aprecio o gosto do turvo.

Quiçá um dia serei lobo.

Dissecando a lua cheia,

rouquejando cacofonia, meias palavras,

Sentindo a existência no uivo. 

Escrevinhando

Escrever é:

Recosturar o verbo;

Descozer o sentido;

Fazer bainha na frase;

Alinhavar adjetivos;

É bem mais que "costurar ausências",

Overlocar no vazio.

É, antes, conjurar presenças.

Remendar a plebe.

Desmaltrapilhar tudo que é vivo. 

Existencializar o estio. 

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Mosqueando.


De olhos infantilizados observava uma mosca.

Que sublime objeto de engenharia essa máquina alada desperta em minha consciência dédalônica!

Seus mapas asas hidrográficos.

Sua trombeta açucarenta.

Suas ósculas escafândricas que lhe conferem tal fisionomia protuberantemente ambervisiônica.


Serão seus olhos grandes ou os meus?


Mas, de repente, tudo volta aos coliformes.

Foi-se, ela, ligeira, em busca de lugares menos acétpicamente sufocantes. 

Guardei em estojo toda a epifania pensante a flutuar.

Voltei aos nomes, pronomes, adjetivos, substantivos e tantos sujeitos indeterminados.

Ali onde é impossívelmente equivocado, conjugar o verbo mosquear.


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Pedagogia


Ai, meu Deus, de repente, me perdi na lida de esteta!

Comecei a adultizar formigas...

Mil perdões Manoel!

Vou correndo de volta pro Mobral...

Jogarei o caderno pela janela, até que cresca mato entre as letras!!

Aí, então, vou aos fundos, mimetizar as flores, alimentar abelhas,

estudar de perto a pedagogia das borboletas.

 

Sobre Manoel e caquís


Na tentativa de infantilizar meu traço,  

deveras sisudo, adulto, recostei na cama antes de dormir 

lendo Manoel de Barros. 

Mas, desisti... 

Saí correndo, zuerento, pro quintal e fui colher caquís. 

Deixei a folha em branco e escrevi sobre nada... 

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Cogito


Penso, logo não sou.

Abraço contingência indentidade.

O que fui, se foi, não sou, não serei, 

não lamento nem tenho saudade.

Permanência é a arte do encontro.

Pode haver mais intensidade filosófica

que uma hermenêutica da partida?

Nascer, renascer de morte.

Viver e morrer de vida.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O artefato ao fato


Indiferença a expressão topológica, geográfica, logocêntrica, insofismável.

Meu mapa é o da diferença irredutível:

Acidente do desejo.

Relevo cindido.

Desencontro irremediável. 

Sentido tardio.

Caminho selvagem.

Impresentificável comunicação impossível de marchar simulacros.

Um vale de mares vazios.

Fragmentado.

Ponto: estiagem.

Ponto e vírgula: estio;

Da sombra em pós a, vírgula, vida escorre e segue viagem em enxurrada de ares extrínsecos

Dois pontos:

oblíquos prospectos de Eros viventes-vadios...


"Sonho com um mundo em que se morreria por uma vírgula..."

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Verdejar


Raça miserável de tagarelas melosos e seus vocábulos românticos axiomáticos!

O ocaso do esculpir a verve.

A roça do carpir nejar.

Ativos incompatíveis, não posso ser o doador.

Que voltem aos seus túmulos com suas vampirices cardíacas!

Não intento nenhum bálsamo a anêmicas hipocondríacas e, mais, abjetaria tudo por um verter vegetal!

Somente explicar o concreto a parede.

Na sombra tangiversar à imitação do silêncio. 

No pulsar intensa diástole rizomática,

verdejar o verde.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Não quero...

Desapegar.

Verbo intransitivo.

Sem medo aproximo do Eu sujeito.

Adiciono um nome, um pronome...

Da minha semântica gramatical torno adjetivo.


   Desapego.

Substantivo masculino.

D-e-s-a-p-e-g-o: 

separação silábica.

Sintoma dissonante.

Na ponta dos pés entro no tom da palavra.

Exercíto estruturas inconstantes, permissivas:

Um certo afeto em lançar abraços.

Uma certa angústia em manejar despedidas...