segunda-feira, 26 de julho de 2010

De soslaio


Fechei a porta a inspiração fácil, açucarada. 

Aguinha doce a beija-flores.

Apertei o passo, peso, sisudo, dispenso codinomes. 

Bruto, enfileiro blocos de pedra.

Mãos grossas - rachadas - sulcos, cimento e Eras.

Talvez, todo escritor tenha seus estados:

da ufania romântico-colorida, passando pela ardência do sol sujo do dia-a-dia,

à auto-comiseração dos descornados. 

Ou, quem sabe, escrita seja só alivio, descarrego.

Uma punheta semântico-lexical.

Insensível?

Penso que ser sensível não é rimar "amor com calor...".

"Oh!! O vermelho do teu batom..."

 "Flor do meu jardim..."

[nota mental: eu não poderia descrever a cor dos teu lábios, levianamente,

quando escreves tua boca em mim.]

Ser sensível não é "colocar perfume na flor...".

Coisinha irresponsável, sem vergonha, jogar ao mundo, prematuramente, à kilo,

o que  é quase indizível.

Não sou afeito a imposições, mas chego a flertar, às vezes, de soslaio, 

métodos de controle da natalidade.

Como podem, assim, no primeiro prazer fugaz, já cuspirem seus partos,

indigentes, prematuros, sujos, mendigando pela cidade?  


Sei, sei... Falar de amor é tão normal...

Eu, tenho vergonha.

Os puxo de volta, antropofágicamente, ao ventre, até que não haja nenhum resíduo umbilical.

Um comentário:

Ricardo Lubisco disse...

Mazá, brincando com as palavras! Mto bom!