quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Shapes

A balança inapelável do destino sempre bate à nossa porta em algum instante. No caótico boliche cósmico há o momento de mudar o repertório. Altos e baixos, alturas dos céus, Hades o inferno, sempre haverá necessária/inevitável incursão ao purgatório.

“Navegar é preciso, viver não é...” dizia o grande poeta, e é dessa imprecisão que é feito esse depósito de dinamite em chamas. Carregando idades imensas, eras imperecíveis, lá no fundo desse teu flexível shape de escorpiana. Não me pergunte, eu sei... Também venho de longe trazendo impresso no invisível afinidades atemporais de tantos outonos ao pó.

Quem sabe desde o tempo dos faraós espalhando enigmas embalados em Esfinges. Escondendo memórias infindávies do início ao não-dito. Confundindo alfarrábios e acadêmicos pseudo-sábios de palavras-licores a pergaminhos perdidos do antigo Egito.

A ida

Ah, as contingências da vida... Quem diria.

Eu, o mais senhor de mim mesmo

Sendo apenas um (a)caso qualquer

Sopro em brasa pra momento cinzento

Ungento que se passa ao sopro do Minuano

Em feridas subjetivas...

Chagas abertas devagarinho ao ocaso do tempo

Não enfrento mais monstros e dragões

Escrevi em um certo momento

Mas, sem querer querendo despertei a acordecida

Agora indo contra a ligeira ampulheta do tempo

Escondendo o mais belo de mim mesmo

Em suposto senso de moralidade fingida

Catando ao vento o tempo casual que me ofereces

Escrevendo segredos em teu batom

Em um encaixe geométrico que enlouquece

E rangendo os dentes na ida...

Filantropismo

Movido pelo mais puro filantropismo literário aceito a tácita tarefa de transmitir no lirismo a parte que me cabe destilando catártico aristotélico. Reclinado, olhar distante, seta em punho, ritual quase litúrgico: meio taoísta, ou umbandista, quem sabe javista, um pouco batista, até aos sábados adventista, mas sem dízimo católico ou evangélico.

Visão periférica alerta em semi-planos inaudíveis do imediato imagético abstrato. Sigo meu ofício extra-físico de aprendiz do senso invisível do teatro da vida e seus atos: sapateiro/carpinteiro de almas.

[Nota mental: lembrando que a vida concreta, deveras insana, não precisa de pregos ou sapatos. Bom mesmo é o pé na terra, unhas negras, calcanhar cascudo, sandália havaianas...].

Todos querem um mundo focável, palpável, denotativo até nas intenções. Pois daqui, ejaculo duplos sentidos no seu mundo movido por senos, co-senos, drenos, duodenos, tubos, distúrbios e conexões. Essa é a cidade Pós-moderna em que promete-se o céu e vive-se no inferno de um mundo ilusório. Trabalhar e burilar os pecados, era o que diziam, em tempos coloniais, os que anunciavam ser aqui o terreno purgatório.

Mas, eu não caibo no seu mundo idílico e me perco na extensão do meu quarto transitório. Sofrendo a libertação das palavras, elas são minhas filhinhas doentes que satisfaço todas as vontades. Vão onde querem ir, brincando despreocupadas. Mas eu as adverti em tom severo para que não aprendam a mentir. Por isso amigo, tudo que sai daqui, é ingênuo, puro, sincero...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Cadê a tristeza?

Na Idade Média utilizava-se a expressão “O Nome da Rosa” para se demonstrar o poder das palavras. Ângelus Silésius certa vez escreveu: “a rosa não tem porquês, ela floresce porque floresce”. Me permito discordar do nobre pensador e refletir sobre as palavras.Não somente a rosa, mas todas as flores tem seus motivos.

A beleza não se expressa somente na alegria e felicidade, também na dor, tristeza... Então, quando a Terra chora, paisagem desolada do árido deserto ao charco abandonado ao pé do céu jogando ao inserto, de sua tristeza brotam escritos. Pequeninos círculos empetelados onde, depois da chuva, do cheiro de terra, um poema de Gaia é enviado aos pseudo-literatos terrestres. Guarda-sol à joaninhas, que em relação simbiótica movimentam a vida invisível aos olhares endurecidos e sem fibras óticas da geração Prozac.

Vem à tona também as ervas, o mato. Se tudo fossem flores não mais as sentiríamos. É preciso que haja prosa para que floresça a poesia. Assim, atravessando imensas camadas subterrâneas, magmas incandescentes, até a transpor a barreira subcutânea, uma pequena flor desafia paralelepípedos.

Avisem os navegantes!

Que parem os transeuntes, os caminhões carregados, aviões e os tanques, os casais de namorados, o esnobe endinheirado, nos motéis os amantes; o cachorro cagando, o bêbado mijando, a dondoca juntando a bosta do bicho; o velho jogando, o entediado andando e o mendigo com fome catando resto no lixo; o otimista sonhando, o suicida chorando, o caipira puxando peixe em ponta de caniço; o político roubando, o juíz apitando e o empresário de filho sequestrado fumando e pensando no inaceitável sumiço.

A Terra escreveu uma flor...

Cadê a tristeza?

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Ônibus

Olhos descuidados que se entrecruzam...

Um cheque de intenções emergentes colorindo meu
caleidoscópio de emoções veladassímas na cristalina
retina do cotidiano fato convergente

Instigante deleite ao pensamento
Olhar a paisagem como álibi dissimulante
Um desvio blasé em direção ao vento
Linguagem sutil: um olhar no relógio, janela trancada
uma ajeitada no assento

Ah que loucura! Upa lá lá!Tens medo?
Me encanta o infame mistério

Tecendo delirantes terceiras intenções
Atrás de pequenas cílicas pulsões
Daquele olhar tão sério...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Mas ah guri atilado* esse Eduardo Marques (é atilado, não atirado viu), quando toma uma biritinha então Deusulivre. Ah, quem me vê nessas festas bombantes entre vultos delirantes espremendo alguém contra as paredes, não sabe cabedal romântico do jovem mancebo.

Sim, sim... Entre tantos beijos loucos perdidos e muitos segredos inconfessavelmente roucos ditos pelos ouvidos, mora um eterno e ingênuo romântico. Daqueles que sonham com uma vida tranqüila numa casa de campo em meio a crianças brincando e galinhas ciscando a seu estilo. Daqueles que suspira em comedinhas românticas holiudianas água com açúcar e aspira um sincero/eterno e único amor super-tranqüilo.

Me assusto comigo mesmo vez em quando. Há um duplo/uno em mim, um espírito xipófago meio físico, meio espiritual. Que idealiza o paraíso, mas depois de algumas noites deveras insanas sofre a diligente ressaca moral dos ébrios hiperpassionais sem juízo.

Me confundo de onde parto e já não sei bem onde quero chegar. Sou o anjo que aspira o sentimento mais puro e incondicional e ao mesmo tempo demônio que põe em chamas todos os verbos do arcabouço dos pudores: pirotécnico do pré-requisito moral.

Ah, mas que cadeia de carbono pensante estranha tu és ser das trevas da luxúria física incontrolável. Querubin da altura metafísica infindável do se perder sentimental.


*Atilado: adj. Esperto, sagaz. / Ajuizado, discreto. / Esmerado, apurado.