"Why do men want to hang onto their youth?" J.M. Barrie
Para onde foram todos os vaga-lumes?
E os tatu-bola?
Caçar vaga-lumes... Nossa, não podia haver mais metafísica do que o neon no traseiro daquele bichinho. Coisa mágica, esplêndida. Inexplicável, lampadinha natalina alada.
Lembro dos tatu-bola, micro-tanque de guerra e sua defesa impenetrável. Bulitas delicadas, escondiam-se de vergonha e eu esperava até o efeito da sua mágica passar. Regredira , enfim, em sua trasmutação cotidiana.
Os adultos só podiam ser cegos por não verem aquilo!
Talvez o nome “Terra do Nunca” fosse mais apropriado pra realidade supostamente coerente que fomos aprendendo: nunca fale com estranhos, não aceite nada de estranhos, não engole o chiclete (gruda nas tripas), homem não chora, não brinque com a comida, não beije o cachorro - pára de rolar no chão-, não veja Tv de madrugada, não saia na chuva, não tire notas baixas, não culpe a professora pela nota, nunca ultrapasse a dosagem prescrita, não beba em excesso, não reclame do emprego (tanta gente desempregada), nunca “dê” no primeiro encontro, nunca faça algo que vá se arrepender . Seja um homem sério, de bom senso, respeitável.
Não tinha parado pra pensar na simbologia da história do Peter Pan. O menino eterno, que é perseguido por um crocodilo com um relógio na barriga fazendo tic-tac, tic-tac... Non-sense à primeira vista. Nunca li nada a respeito, mas, talvez, o crocodilo represente o tempo. Sua inflexibilidade que a tudo persegue e devora. Que nos faz fugir incessantemente. O “tic-tac” que não nos deixa esquecer disso: o corpo decompõe aos poucos. Penso que se o crocodilo (o tempo) pegasse o Peter Pan, a história terminaria com um adulto acordando de um sonho, com o relógio despertando às 6:30 de uma segunda feira. Hora da vida adulta...
Não tinha parado pra pensar na simbologia da história do Peter Pan. O menino eterno, que é perseguido por um crocodilo com um relógio na barriga fazendo tic-tac, tic-tac... Non-sense à primeira vista. Nunca li nada a respeito, mas, talvez, o crocodilo represente o tempo. Sua inflexibilidade que a tudo persegue e devora. Que nos faz fugir incessantemente. O “tic-tac” que não nos deixa esquecer disso: o corpo decompõe aos poucos. Penso que se o crocodilo (o tempo) pegasse o Peter Pan, a história terminaria com um adulto acordando de um sonho, com o relógio despertando às 6:30 de uma segunda feira. Hora da vida adulta...
E o Capitão Gancho? Parece não ter nada mais interessante pra fazer do que perseguir algumas crianças voadoras. O Capitão Gancho é protótipo do adulto, que transforma a vida das crianças num inferno. Sim, porque todo Paraíso infantil vira inferno quando um adulto entra lá. Mas o “tic-tac também o persegue. Porque o tempo persegue sem distinções. O Capitão é o adulto da história, o tempo já lhe abocanhou algo essencial, ficou mutilado, incompleto, como todos nós. Representa a perda do espírito infantil que fica na transição para a vida adulta. Todos obcecados agora, como ele, por tantas coisas sem sentido.
Peter, a eterna criança, simboliza o espírito mais belo que temos dentro de nós. Mesmo o adulto mais carrancudo já foi uma criança sorridente um dia. E ela continua lá, escondida em algum lugar. Aquele espírito de aventura, fantasia e simplicidade que nos falta na vida cotidiana às vezes. Aquele olhar desperto à eterna novidade do mundo, que vamos perdendo com o tempo. Mesmo as coisas mais belas vão começando a passar desapercebidas, virando rotina, até que já não as vemos mais.
Talvez tenhamos muito mais a aprender com uma inocente história infantil. Que, ainda, no mundo, pode haver imaginação e aventura, ingenuidade e sonho. Porque toda a fantasia, a aventura que nos falta no dia-a-dia acabamos projetando em entretenimento barato. Os amores impossíveis, as sublimações de honra e verdade, as aventuras heróicas, a felicidade eterna. Tudo o que julgamos não sermos mais capazes encontramos representado em Hollywood e arredores.
Quem sabe um pouco de pó de “pir lim pim pim” na vida cotidiana resolvesse. Mas adultos não ganham o pó mágico. Ficam com a sensação de que nada é suficiente. Insasciedade constante, vontades inexplicáveis, buscas desconexas. Talvez porque o que nossa natureza exija seja satisfação e não distração. De repente, a gente se dá conta, se torna um estranho pra si mesmo. Fica cego.
Pra onde foram os vaga-lumes e os tatus-bola?!
Tentamos, no mais das vezes, preencher uma lacuna que se fez. Que ficou em algum lugar do passado. Esquecida. Onde moram todas as crianças perdidas: Na “Terra do Nunca”.
Um comentário:
interessante a análise caso o tempo que pode vir a devorar Peter.
Nunca tinha pensado nisso. Digamos que...
é um viés consideravelmente a ser refletido.
uhuuuuuu
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