sábado, 24 de novembro de 2007

Mentiras sinceras muito me interessam.
Sussurros norteadores que revelam o que se é displicentemente.

Alguns pequenos passos ao espaço literato escondem o ego acendendo incenso perfumado em palavras que instigam o paladar dos viventes pela subjetiva sinestesia do olfato.

O devir:
espaço eqüidistante da mão ao papel é um hipotético arco-íris de cores a serem psicografadas da alma como trabalho de criança [empunhando lápis de cor, canetinha, giz de cera]
ainda por colorir.

Que caiam por terra todas as verdades auto-suficientes!

Palavras-ícones imóveis que confortam tantas mentes em status correto de bom expectador.

Arquétipos pré-moldados sobre imensos alicerces fabricados onde a dor subsiste na utopia dos padrões de felicidade e satisfação.

Meu ébrio equilíbrio de convicção esferográfica revela e disfarça o que fui e o que não sou: um mentiroso velado cheio de boas intenções.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Alô povão agora é sério!!!

Olha o alter-ego aí gente!

Chora cavaco!

Cansei do carnaval das identidades
Todos os foliões jogando serpentina na avenida das virtualidades e sambando o compasso da cidade ilusória.
Máscaras fotoshopadas impulsionam histórias embaladas em tecnológicas emoções que não rodam em Linux

Um libelo ecoa pelos k bytes contra a mecanização dos viventes
Em relações que explodem um ideal onde o palpável-real vai se tornando distante ou ausente em projeções que desviam o sujeito do mundo concreto.

Mesmo assim, resisto aos embates de lança em punho, olhar sincero, verbo livre, amor direto.

Sem tantas reprimendas internas e tantos escudos externos que não protegem as artérias de contendas ao toque do pêlo aos poros.

Apenas sublinham um senso que se pensa seguro
Contingências criadas pedra a pedra que cercam um pequeno castelo de sonhos com muro auto-preservação.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Reza a Vela


Cospe fogo o arauto contra prolixa dislexia dos canonizados em esfinges e suas verdades auto-sufientes proferidas do alto de herméticos santuátios. Um eterno desacordo entre as palavras sagradas e o lirismo puro e claro dos pagãos incitados ao dogmatismo mercantil cronomonetário.

Não penso, logo desisto. Copio tudo direitinho pra transcrever o correto na balança final. Uns arbiotários enganam que ensinam e, os bisonhos seminaristas sacrários vomitam o mesmo terço, rezando igual ao das pontífices autoridades.

Tudo religiosamente normalizado, pequenas obscenidades da liturgia cotidiana destiladas em meta-exorcismos de tantas sacralizadas inutididáticas insanas.

Alguns anos de genuflexório põem, sem problemas, em evidência os novos doutores de canudo e pedabobas pseudo-heroínas do apertar parafusos do sistema. Mais alguns rezadores a entorpecer mentes voadoras na brasa xilocaína. Rezam as práticas pra seu glor(insosso)çobrável suor de cada dia azeitar e mover as poderosas máquinas da Nova (des)Ordem Mundial.

Misericórdia senhor! Ui, ui, tenho medo. Trago estacas, alho, crucifixo e rosário nos dedos. Digo Cruz em Credo saí exu da Quizumba! Atiro água benta, faço promessa, santinho na carteira, cachaça barata em beira de estrada derramando pipoca na macumba.

O que mais eu faço?! Sinceramente já não sei, não sei... Clamo obstinadamente ajuda dos Deuses e alguns poucos adjuntórios clarividentes enquanto entidades pegajosas me desbundam a resposta insofismável iguais aos mesmos ectoplasmas deprimentes (a)lunos:

“Sim Sr., fazer-vo-lo-ei...”



*(a)luno: ser desprovido de luz.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Shapes

A balança inapelável do destino sempre bate à nossa porta em algum instante. No caótico boliche cósmico há o momento de mudar o repertório. Altos e baixos, alturas dos céus, Hades o inferno, sempre haverá necessária/inevitável incursão ao purgatório.

“Navegar é preciso, viver não é...” dizia o grande poeta, e é dessa imprecisão que é feito esse depósito de dinamite em chamas. Carregando idades imensas, eras imperecíveis, lá no fundo desse teu flexível shape de escorpiana. Não me pergunte, eu sei... Também venho de longe trazendo impresso no invisível afinidades atemporais de tantos outonos ao pó.

Quem sabe desde o tempo dos faraós espalhando enigmas embalados em Esfinges. Escondendo memórias infindávies do início ao não-dito. Confundindo alfarrábios e acadêmicos pseudo-sábios de palavras-licores a pergaminhos perdidos do antigo Egito.

A ida

Ah, as contingências da vida... Quem diria.

Eu, o mais senhor de mim mesmo

Sendo apenas um (a)caso qualquer

Sopro em brasa pra momento cinzento

Ungento que se passa ao sopro do Minuano

Em feridas subjetivas...

Chagas abertas devagarinho ao ocaso do tempo

Não enfrento mais monstros e dragões

Escrevi em um certo momento

Mas, sem querer querendo despertei a acordecida

Agora indo contra a ligeira ampulheta do tempo

Escondendo o mais belo de mim mesmo

Em suposto senso de moralidade fingida

Catando ao vento o tempo casual que me ofereces

Escrevendo segredos em teu batom

Em um encaixe geométrico que enlouquece

E rangendo os dentes na ida...

Filantropismo

Movido pelo mais puro filantropismo literário aceito a tácita tarefa de transmitir no lirismo a parte que me cabe destilando catártico aristotélico. Reclinado, olhar distante, seta em punho, ritual quase litúrgico: meio taoísta, ou umbandista, quem sabe javista, um pouco batista, até aos sábados adventista, mas sem dízimo católico ou evangélico.

Visão periférica alerta em semi-planos inaudíveis do imediato imagético abstrato. Sigo meu ofício extra-físico de aprendiz do senso invisível do teatro da vida e seus atos: sapateiro/carpinteiro de almas.

[Nota mental: lembrando que a vida concreta, deveras insana, não precisa de pregos ou sapatos. Bom mesmo é o pé na terra, unhas negras, calcanhar cascudo, sandália havaianas...].

Todos querem um mundo focável, palpável, denotativo até nas intenções. Pois daqui, ejaculo duplos sentidos no seu mundo movido por senos, co-senos, drenos, duodenos, tubos, distúrbios e conexões. Essa é a cidade Pós-moderna em que promete-se o céu e vive-se no inferno de um mundo ilusório. Trabalhar e burilar os pecados, era o que diziam, em tempos coloniais, os que anunciavam ser aqui o terreno purgatório.

Mas, eu não caibo no seu mundo idílico e me perco na extensão do meu quarto transitório. Sofrendo a libertação das palavras, elas são minhas filhinhas doentes que satisfaço todas as vontades. Vão onde querem ir, brincando despreocupadas. Mas eu as adverti em tom severo para que não aprendam a mentir. Por isso amigo, tudo que sai daqui, é ingênuo, puro, sincero...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Cadê a tristeza?

Na Idade Média utilizava-se a expressão “O Nome da Rosa” para se demonstrar o poder das palavras. Ângelus Silésius certa vez escreveu: “a rosa não tem porquês, ela floresce porque floresce”. Me permito discordar do nobre pensador e refletir sobre as palavras.Não somente a rosa, mas todas as flores tem seus motivos.

A beleza não se expressa somente na alegria e felicidade, também na dor, tristeza... Então, quando a Terra chora, paisagem desolada do árido deserto ao charco abandonado ao pé do céu jogando ao inserto, de sua tristeza brotam escritos. Pequeninos círculos empetelados onde, depois da chuva, do cheiro de terra, um poema de Gaia é enviado aos pseudo-literatos terrestres. Guarda-sol à joaninhas, que em relação simbiótica movimentam a vida invisível aos olhares endurecidos e sem fibras óticas da geração Prozac.

Vem à tona também as ervas, o mato. Se tudo fossem flores não mais as sentiríamos. É preciso que haja prosa para que floresça a poesia. Assim, atravessando imensas camadas subterrâneas, magmas incandescentes, até a transpor a barreira subcutânea, uma pequena flor desafia paralelepípedos.

Avisem os navegantes!

Que parem os transeuntes, os caminhões carregados, aviões e os tanques, os casais de namorados, o esnobe endinheirado, nos motéis os amantes; o cachorro cagando, o bêbado mijando, a dondoca juntando a bosta do bicho; o velho jogando, o entediado andando e o mendigo com fome catando resto no lixo; o otimista sonhando, o suicida chorando, o caipira puxando peixe em ponta de caniço; o político roubando, o juíz apitando e o empresário de filho sequestrado fumando e pensando no inaceitável sumiço.

A Terra escreveu uma flor...

Cadê a tristeza?

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Ônibus

Olhos descuidados que se entrecruzam...

Um cheque de intenções emergentes colorindo meu
caleidoscópio de emoções veladassímas na cristalina
retina do cotidiano fato convergente

Instigante deleite ao pensamento
Olhar a paisagem como álibi dissimulante
Um desvio blasé em direção ao vento
Linguagem sutil: um olhar no relógio, janela trancada
uma ajeitada no assento

Ah que loucura! Upa lá lá!Tens medo?
Me encanta o infame mistério

Tecendo delirantes terceiras intenções
Atrás de pequenas cílicas pulsões
Daquele olhar tão sério...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Mas ah guri atilado* esse Eduardo Marques (é atilado, não atirado viu), quando toma uma biritinha então Deusulivre. Ah, quem me vê nessas festas bombantes entre vultos delirantes espremendo alguém contra as paredes, não sabe cabedal romântico do jovem mancebo.

Sim, sim... Entre tantos beijos loucos perdidos e muitos segredos inconfessavelmente roucos ditos pelos ouvidos, mora um eterno e ingênuo romântico. Daqueles que sonham com uma vida tranqüila numa casa de campo em meio a crianças brincando e galinhas ciscando a seu estilo. Daqueles que suspira em comedinhas românticas holiudianas água com açúcar e aspira um sincero/eterno e único amor super-tranqüilo.

Me assusto comigo mesmo vez em quando. Há um duplo/uno em mim, um espírito xipófago meio físico, meio espiritual. Que idealiza o paraíso, mas depois de algumas noites deveras insanas sofre a diligente ressaca moral dos ébrios hiperpassionais sem juízo.

Me confundo de onde parto e já não sei bem onde quero chegar. Sou o anjo que aspira o sentimento mais puro e incondicional e ao mesmo tempo demônio que põe em chamas todos os verbos do arcabouço dos pudores: pirotécnico do pré-requisito moral.

Ah, mas que cadeia de carbono pensante estranha tu és ser das trevas da luxúria física incontrolável. Querubin da altura metafísica infindável do se perder sentimental.


*Atilado: adj. Esperto, sagaz. / Ajuizado, discreto. / Esmerado, apurado.

domingo, 23 de setembro de 2007

Especial ou espacial?

Vinda em uma semente espacial não se sabe d'onde
Perdida das mãos dos Deuses
Uma centelha divina que germina e ilumina o mundo com sua infinita beleza.
Um corpo etéreo que levita, dança em meio aos viventes que se arrastam pesadamente, cegos à tudo, indiferentes.
Só mesmo alguns poucos videntes tem o prazer da epifania extraterrena.
Teu canto ecoa além das luzes da ribalta,
Nem o vácuo pra ti é obstáculo: princesa astronauta.
Despreza a gravidade mundana, entre o céu e a Terra alternando as pautas.
Conjução astral de eternidades imensas,
Não discordarei do que tu pensas... tu és espeicial...


terça-feira, 18 de setembro de 2007

Ando cansado... tecendo mortalhas à fantasmas que velam emoções defuntas. Lembranças num teatro estranho do passado... Cinzas em uma garrafa lançada ao mar, não resta nada. Vejo a estrada de volta pelo retrovisor do meu mundo inverso. Sim, inverso pois andamos em contagem regressiva na direção ao fato sem explicação que é marca do nosso estranho destino sobre a Terra. E o que há de tão monstruoso sobre as palavras não-ditas? Fetos rejeitados de histórias desconhescíveis que poderiam ser escritas. Linha e agulha ligeira sobre feridas que não se vê. Mas essa é a questão: quanto de mim se perde entre pontos, vírgulas, exclamações, alguns erros de gramática e uma grande interrogação? Uma mensagem em uma garrafa vagando ao acaso, na solidão. Um pedido de socorro ao mundo. Fácil escrever profundamente aqui no que há lá dentro. Basta um ponto, nova linha, travessão...

sexta-feira, 14 de setembro de 2007


Ele era aquele que adorava tomar banho de chuva. Escolher os bombons a dedo na caixinha, separar as balinhas vermelhas (sim, sim, ele era o único que não gostava das vermelhas!), comer leite em pó de colher, brincar a tarde inteira. Aquele que ficava horas olhando para as estrelas, sem saber exatamente por quê, apenas porque era divertido... Caçar caga-lumes, nossa era o máximo! Não podia haver mais metafísica do que a luz que saia do traseiro daquele bichinho, coisa fantástica, inexplicável, mágica! Os adultos só podiam ser cegos em não verem aquilo... Era aquele que fazia coisas idiotas, só pra chamar a atenção, ser notado. Aquele que fazia vários planos mirabolantes de como iria conversar com aquela menina, e que na hora nunca conseguia, não saía nada, aquele frio na barriga era terrível! Ah sim, as meninas, quando gostava de alguma sempre achava que seria pra sempre, como se fosse... Era aquele que nunca entendia porque os adultos brigavam tanto, e faziam tantas coisas idiotas. Mas, mesmo assim, sempre tinham verdades para tudo... Achava bobagem eles trabalharem tanto e se divertirem tão pouco. E o pior, quando tinham tempo, não sabiam o que fazer com ele... Ele não queria ser adulto. Sim, sim, era aquele que ia pras festinhas e tinha vergonha de dançar. Ele não sabia dançar ora bolas! Não que não pudesse enganar um pouco, mas também achava aquelas dancinhas coisa muita embaraçosa. Mas, os planos mirabolantes continuam... E hoje, ele se deu conta de que os adultos são realmente idiotas. E pior, idiotas que aprenderam a dissimular muito bem. Que ainda brigam por qualquer coisa idiota. Mas, mesmo assim, ainda tem verdades para tudo: trabalhar, comprar, gastar, empurrar as dívidas... Ainda não vêem como é divertido deitar no chão e olhar as estrelas. Claro, para eles isso soa como algo meio bobo, idiota... Mas eu digo que bobo mesmo é trabalhar seis dias e na sua folga assistir novela! Faustão! Show do Milhão! O que você faz com o tempo que acha que é realmente seu? De repente, a gente se dá conta.... Não se reconhece mais... Se torna um estranho pra si mesmo... Fica cego...

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Domingo 02-09-2007

Gostaria de ter escrito um diário quando criança – em segredo obviamente -, porque só as meninas escreviam tais. O diário é um amigo que sempre ouve nossos segredos, e o melhor, não conta a ninguém. Depois de adultos, quando sentimos falta de falar com nossa própria consciência, confessar pra si mesmo inquietações, vamos ao Psicólogo.
(nota mental: já que não gosto de Psicólogos tenho meu próprio diário secreto)

Sempre amei os domingos. Sempre foi uma relação quase mágica. Quando pequeno acordava cedinho e ficava sentado na porta de casa absorvendo a luz da manhã sentindo aquele misto de calor e friozinho... “easy like a Sunday morning...”. Depois de adentrar ao mundo adulto e me tornar plenamente capaz, as noites de sábado passaram a ser muito bem aproveitadas e nem sempre acordo digamos muito cedo. E há uma inversão que se fez. Passei a não gostar de domingos à noite. Domingo à noite é o “fim-de-feira”. Tudo que podia ser aproveitado já foi. As distrações, emoções, compulsões... Cabosse... Amanhã é segunda-feira...Um buraco negro interno pede passagem, vontade de sair correndo... Então corro e divido minha inquietação fingindo que vós não estão lendo. Rebobino a fita K-7 do (sim, sim... sou da antiga) tempo e penso... penso na vida.
(nota mental: voltar a fita com caneta Bic dá uma trabalho...)

Bem, quem diz que é bom ser sozinho sempre diz uma meia verdade. E que, pra maioria, a vida de casados abençoados por Deus, é uma vida pela metade. A verdade é que nunca quis ser “marido”. Sempre tive a sensação disso e não sabia por quê. Claro! Quero ser Amante! Amante da vida, das amizades, das paixões tsunâmicas que violentamente em irrupções vulcânicas arrasam a cidade.
(nota mental: ainda acho que a Florbela Espanca é minha alma gêmea)

Marido dá bitoca de boa-noite. Amante dá mordida de bom-dia.
Marido ronca. Amante não dorme.
Marido pega na mão. Amante pega no colo.
Marido reclama do trânsito. Amante escorre pelo câmbio a mão delirante...
Marido faz “papai-e-mamãe”. Amante atira na parede e...

(nota mental: atirar na parede “e...” é o oro do bizorro)

Calma Apostólicos Pentecostólicos da Igreja do Circular do Triângulo Redondo. Não irei incitar a pueril juventude a exorcizar o santíssimo sacramento da união divina entre dois seres abençoada e executada pelo legítimo representante divino na Terra incumbido de tal sagrada função espirituiliooosa...
Apenas descobri que não quero a “metade de laranja” nenhuma. Quero sim, um morango inteiro ou ao menos, uma bela maçã mordida. Não quero um caro símbolo estático nos dedos. Quero mãos tensas, toques trêmulos. Não quero uma cerimônia com testemunhas. Quero uma festa com cúmplices de todas nossas belas histórias, ou dos desejos inglória, inconfessáveis loucuras...
Não quero certeza. Quero medo. Teus olhos, teu corpo, teu desejo. Que atrás do teu rosto, teu batom, se guardem todas nossas desmesuras, nossos segredos. Não quero barriga estufada, mesas fartas, sofás gastos. Quero o ventre livre e leve. Aquele friozinho de barriga produzido pelo vôo hipotético de pequeninas borboletas árticas. Não quero reclamações por impontualidade. Quero sim, me arrumar pra ti, exagerar no perfume, euforia, olhos cravados no relógio de ansiedade. Aquele sem jeito dos primeiros encontros: respiração ofegante, coração tropeçante, a alegria inconstante na beleza de estar... Amante.

(nota mental: não sei como ainda hoje perco o jeito, fico bobo, esqueço o planejado, disfarço, olho pro lado, não sei o que falar direito.)

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Plutocracia

E lá vai o verme novamente...
O pequeno paladino da carne fria
Sugando a carne macia dos moribundos
Atráz de epitáfios onde jaz alguma flor
Lá vai... lá vai...
Rastejando, banalizando,
humilhando a morte!
Não tem crise de consciência
Nem se importa com a nossa dor...

Lá vai, lá vai o verme!
No silêncio da noite
Fazendo o seu trabalho
Tenaz, obstinado,
Sorrateiramente.

E o operário no seu papel inverso:
Triste... Gregário...
Lentamente devorado
Sarcasticamente...

(À Renan Calheiros e similares)

Meu Paraíso

Sei que estou cheio de bobagens
Eterno paradoxo
Dor em conforto, Sorrisos em tristeza
Pressa de ir pra não sei onde
Um mundo longe daqui, Jardim do Éden
Distante além de um sinal visível
Mulher cadeado, menina segredo...
Esqueço que enquanto há mistério há beleza indefinida
E é assim que eu sei que te quero.
Esfinge que me devora a cada tentativa
Eterno quarto do mistério onde mora a Famme fatale
(Bela Adormecida)
Que coloca pedrinhas nos meus sapatos,
me força a parar, mudar o caminho, pensar na vida...
Aquela que foge à noite com as bonecas,
sobe as escadas e brinca, embaixo da cama,
como menina...
Jardim do Éden, orquidário, é nosso plano imagético
Ao qual arancamos ao peito hipotético
A casca das feridas...
Sutil, profundo, etéreo, intuitivo...
Não sou exatamente um ser verbívoro mas,
Arrisco a vida na dança da corda bamba em metáforas no futuro do subjuntivo:
Se eu te falasse, se tu me falasses...

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Onde habitam os sonhos


Aquele lugar... Onde moram todos os sonhos irrealizados. Aquele casarão onde a imaginação é real, e onde o real é métafora em algum momento perdido... Onde não há escadas que se desfazem aos pés, onde não há olhares de reprovação, dedos inquisitores apontando em sua direção... Em volta do moinho do tempo eternas crianças, sem culpas e sem pecados, cantam alegres no caminho. Onde tudo que foi desfeito, tudo que não realizamos, o incompleto... se torna real. Os banhos de chuva que não tomamos, as vezes que não saímos porque fez mau tempo, as flores que não mandamos por medo de reprovação, aquele beijo (violento depois de uma discussão) que não aconteceu, a última mulher a ser amada que não veio, a vida que não tivemos... "um lugar impalpável onde habitam intenções". Intenções e sonhos. Eu o encontrei... Mas na verdade sempre soube onde ele estava. Porque a eterna criança em mim sempre subia ao sotão pra ficar sozinha e brincar com a quinquilharia acumulada dos anos. Os sonhos encaixotados, intenções empoeiradas, paredes com corações e nomes dentro, juras de amor eterno, avatares perdidos no tempo... Achei esse lugar, mas nem sempre posso ir até lá. Só quando fujo do mundo adulto por debaixo das mesas do cotidiano e subo as escadas... E sorrio porque vejo que você está lá também, e brinca comigo... Em algum momento perdido nos divertimos com o caleidoscópio da vida rotineira. Vemos o mundo real como crianças na sua traquinagem ingênua... pelas frestas...



À Tinker bell...

sábado, 11 de agosto de 2007

Pecado Original


Não... não! Deus não condenou Eva ao exílio do Paraíso.
Te ajoelhas ao dia-à-dia arquétipo de Maria?
Te penitencía genuflexa a submissão do teu negro quarto?
Por séculos arrastas demônios que impelem anjos a
esperar uma próxima dança?
Pandora... Pandora... pobre criança, te ajoelha...chora...
Se Deus condeno-a à purgar
Seu pecado pela dor (a dor do parto)
Foi somente até a luz da anestesia
Podes... podes sim! Ser altiva Madalena!
Ai... por favor... Deixem de ser Maria...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Os vaga-lumes e a Terra do Sempre


"Why do men want to hang onto their youth?" J.M. Barrie

Para onde foram todos os vaga-lumes?

E os tatu-bola?

Caçar vaga-lumes... Nossa, não podia haver mais metafísica do que o neon no traseiro daquele bichinho. Coisa mágica,  esplêndida. Inexplicável, lampadinha natalina alada. 

Lembro dos tatu-bola, micro-tanque de guerra e sua defesa impenetrável. Bulitas delicadas, escondiam-se de vergonha e eu esperava até o efeito da sua mágica passar.  Regredira , enfim, em sua trasmutação cotidiana.

Os adultos só podiam ser cegos por não verem aquilo!

Talvez o nome “Terra do Nunca” fosse mais apropriado pra realidade supostamente coerente que fomos aprendendo: nunca fale com estranhos, não aceite nada de estranhos, não engole o chiclete (gruda nas tripas), homem não chora, não brinque com a comida, não beije o cachorro - pára de rolar no chão-, não veja Tv de madrugada, não saia na chuva, não tire notas baixas, não culpe a professora pela nota, nunca ultrapasse a dosagem prescrita, não beba em excesso, não reclame do emprego (tanta gente desempregada), nunca “dê” no primeiro encontro, nunca faça algo que vá se arrepender . Seja um homem sério, de bom senso, respeitável.

Não tinha parado pra pensar na simbologia da história do Peter Pan. O menino eterno, que é perseguido por um crocodilo com um relógio na barriga fazendo tic-tac, tic-tac... Non-sense à primeira vista. Nunca li nada a respeito, mas, talvez, o crocodilo represente o tempo. Sua inflexibilidade que a tudo persegue e devora. Que nos faz fugir incessantemente. O “tic-tac” que não nos deixa esquecer disso: o corpo decompõe aos poucos. Penso que se o crocodilo (o tempo) pegasse o Peter Pan, a história terminaria com um adulto acordando de um sonho, com o relógio despertando às 6:30 de uma segunda feira. Hora da vida adulta...

E o Capitão Gancho? Parece não ter nada mais interessante pra fazer do que perseguir algumas crianças voadoras. O Capitão Gancho é protótipo do adulto, que transforma a vida das crianças num inferno. Sim, porque todo Paraíso infantil vira inferno quando um adulto entra lá. Mas o “tic-tac também o persegue. Porque o tempo persegue sem distinções. O Capitão é o adulto da história, o tempo já lhe abocanhou algo essencial, ficou mutilado, incompleto, como todos nós. Representa a perda do espírito infantil que fica na transição para a vida adulta. Todos obcecados agora, como ele, por tantas coisas sem sentido.

Peter, a eterna criança, simboliza o espírito mais belo que temos dentro de nós. Mesmo o adulto mais carrancudo já foi uma criança sorridente um dia. E ela continua lá, escondida em algum lugar. Aquele espírito de aventura, fantasia e simplicidade que nos falta na vida cotidiana às vezes. Aquele olhar desperto à eterna novidade do mundo, que vamos perdendo com o tempo. Mesmo as coisas mais belas vão começando a passar desapercebidas, virando rotina, até que já não as vemos mais.

 
Talvez tenhamos muito mais a aprender com uma inocente história infantil. Que, ainda, no mundo, pode haver imaginação e aventura, ingenuidade e sonho. Porque toda a fantasia, a aventura que nos falta no dia-a-dia acabamos projetando em entretenimento barato. Os amores impossíveis, as sublimações de honra e verdade, as aventuras heróicas, a felicidade eterna. Tudo o que julgamos não sermos mais capazes encontramos representado em Hollywood e arredores.

Quem sabe um pouco de pó de “pir lim pim pim” na vida cotidiana resolvesse. Mas adultos não ganham o pó mágico. Ficam com a sensação de que nada é suficiente. Insasciedade constante, vontades inexplicáveis, buscas desconexas. Talvez porque o que nossa natureza exija seja satisfação e não distração. De repente, a gente se dá conta, se torna um estranho pra si mesmo. Fica cego. 


Pra onde foram os vaga-lumes e os tatus-bola?!

Tentamos, no mais das vezes, preencher uma lacuna que se fez. Que ficou em algum lugar do passado. Esquecida.   Onde moram todas as crianças perdidas: Na “Terra do Nunca”.


domingo, 5 de agosto de 2007

Festejemos a certeza de que o homem não é um caso perdido no fim das contas.
Existem, é verdade, os que massacram povos indefesos.
Os que em nome da liberdade espalham o terror e a servidão pelo mundo
E, talvez pior ainda, os que cumprimentam estes
Sorridentes e com honras de Estado.
Existem... Existem e muitos!
Assassinos robotizados.
Mas há ainda...
O falar sincero, o olhar gentil, o amar direto...
Há ainda...
Os que dão a vida, não por si
Por amor aos seus
Os que enfrentam um pelotão de choque
Com paus e pedras... De mãos limpas, peito aberto.
E enquanto houveram pessoas assim
A vida jamais... jamais será em vão...

sábado, 4 de agosto de 2007

Gramótica II

Estrangeirismos antrópicos em meu estilo?!
Relativo, em convexo com seu Panteonísmo Rococosístico...
Se assim me perguntarem,
Responderei simplesmente à seu agrado:
...fí-lo porque qui-lo
...

Escolástica

Ave os sandeus da palavra perpétua!
Vigilantes eternos do exército da imutabilidade...
Engole guri! Quiabo, Jiló e Jerimum
Toda a panela... a verdade!
Se o conhecimento de suas Leis fosse condição
Para se fazer amor com as palavras
Seus Papas inquisitores seriam amantes insuperáveis!
Mas, ao que me consta essa é sua realidade:
Sermões, contradições e ladainha;
Arrogância, negligência
...simonia...
...voto de castidade...

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Epopéia

Não sou príncipe encantado
Não vim despertar a adormecida
Não enfrento monstros, dragões e mau tempo
Há sempre um ranger de dentes na ida

Também, nem um pouco me seduz a vida normática
O Nirvana da auto-abdução rotineira
Anulçao recíproca em prateleiras empoeiradas
(Sua intenção estática)

Mas, também não luto contra o indefinido

O Karma do bicho-homem lhe espanca?!
Talharin agri-doce é a vida
A ampulheta do tempo corre...escorre...
E aquela sensação de ainda...

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Invisível

Eu... tenho a dizer...e tanto medo...
Segura forte a minha mão!
Inspiro, suspiro...expiro meus segredos
Desato o cordaço do sapato do destino
Ando descalço... Pego o atalho no caminho
Beleza da vida é sua imprevisibilidade
Encruzilhadas do acaso
Abrem portas ao infinito...
Desço do muro onde se debruçavam memórias do passado
... um olhar... um sorriso...
Se hesito, erro... exercito a incoerência;
É porque não tinha os olhos despertos
Coração desfeito, sentidos à ferros!
Mendigando parcas indulgências
Vem... não pede licença
Me liberta!
Estendo os braços pra provar-te a inocência
...chaves não precisam de portas abertas...

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Antropofagia

O conhecimento é mais importante
Que a imaginação...
Não atiro palavras ao vento
Cada palavra é um padaço de mim,
Meu corpo, meu sentimento
Escondem as vozes da razão
Escrevo registros com sangue
...sorrisos e lágrimas...
Espirram com a força
Que bate meu coração

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Do Lado de Dentro

Um muro foi levantado
Do outro lado, a eterna primavera
Flores e cores deveras...
Aqui, esse inverno frio, eu
E minhas pobres quimeras...
Ah, quem me dera
Que sobre uma lagrima triste e dolorosa
Por algum milagre, sobre esse muro frio
Brotasse ao menos
Uma rosa...
Quimeras vulgares, ilusões enganosas...
Não acredito em milagres
E em muros
Não dão rosas...

Alô povão agora é sério!!


Achei que não soubesse sambar...
No carnaval das identidades
Ficava alheio a orgia das ilusões hi-tech
Também, com a minha idade
(pensava)
Mas o vírus da proliferação virtual adquire status psicossomático
Musica malemolente, serpentina, bebida, confete...
E lá vai mais um folião contente!
Na avenida toscamente
...a bailar...

Quiromancia

Cansei...cansei...cansei!
Cansei de contusões cardíacas:
Torções, distenções, esmagamentos, luxações...
Insulina de boca-em-boca;
Hemodiálises emocionais
Destilando distrações...

O que resta é um órgão semi-fossilizado
Talvez Paleontólogos quiromances do futuro
Encontrem nele as marcas indeléveis do passado
Espantados comentariam sobre calssificações
Remotas existentes, concluiriam:
-Sapien sapiens da Era de Aquário: racional, frio, indiferente...
- Por quê assim era?

-Em pedras pisava toda a gente...

Convalescência


A arte está doente. Pois está cheia de doutores...

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Cotidiano

Da euforia do enredo
Fez-se a apatia do engano
Teatro estranho onde o sorriso Jaz
...preto e branco...
Trincheiras conjugais
Gentilezas burocráticas
Camas diplomáticas
...cotidiano...

sábado, 21 de julho de 2007

Tons...


Em cada dor: uma partida
Em cada cor: um recomeço
Em cada tom, eu reconheço,
a eterna mudança da vida...

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Pós-moderno

Ergue um pedestal e coloca teu ídolo de pedra
Estético, seletivo, hierático
Tantas mazelas que endurecem as gentes!
Eu sigo: irônico, descrente, sem saco...
Do seu mundo plastificado na aparência
Hipócrita, cronomonetário, exático...
E quem se importa se você se importa
Com o que a gente sente?!
O nobre olhar da tua Deusa demoníaca
Transforma tudo em pedra
Pobres viventes... Ah, os viventes
Vomitam convuldisfunções cardíacas
Cospem promessas
(Outros idiotas adoram correr atrás destas)
Abraçam o vento
Apontam o dedo em outra direção...
Escarram-se em olhares sórdidos
Regurgitam sentimentos mórbidos
E não pensam
Como animais que são...

Gramótica



Me aborrece a tal gramática
Silogismos sublimados
Sintaxes em razões destiladas
Escombros de palavras mutiladas!!
...sujeitos indeterminados...

O Segredo...


O mistério do mundo me assombra...
O mísero desejo de consciência:
Ciência, racionalidade, conveniência...
A contingência da verdade!
Tudo do nada? E o nada de onde?
Evidente problema!
Pois que joguem palavras ao vento
E que se forme um poema!!!
Onde há mais verdade?
No trabalho da lavadeira,na lida do operário?
Talvez essa seja a verdadeira essência:
nenhum desejo de consciência!
Apenas a morte caindo do azul
Como a fluorescência dos astros
Em noites estreladas...
Ah, aquela bela frase:
“Há mais verdades entre o céu e a terra do que julgam todas as filosofias...”
Que ironia! Pois se tu vivesses hoje escreveria:
“Há mais mentiras que verdades...”
Que continuem buscando a tal verdade
Nas religiões, Filosofias do mundo, nas ruas da cidade...
Jamais, nenhuma delas,
Terão tanta verdade, nem tão pouco a seriedade,
Das crianças quando brincam...

New World Disorder







Minha prolixidade muda
Escarra na sua orelha burra!!!

Emergência


...silencio...
A beleza da hora que para
Pensamentos... pensamento...
Estendem-se os braços
Destila-se desejo:
hemoglobina, glóbulos, hemácias;
O círculo faz-se
Metade sístole, outra diástole...
Atravessa teu olhar
Espanta as ilusões não paridas
Amor...Nossas bocas unidas!
O elo invisível
Um cículo perfeito...
E tu já não pensa
E eu já não vejo
Pensamentos tardios
Estado de emergência
Olha pra mim
Me beija...
Me deseja...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Vamos estendar as mãos...

"Não ande atrás de mim, talvez eu não saiba liderar. Não ande na minha frente, talvez eu não queira seguí-lo. Ande ao meu lado, para podermos caminhar juntos."


Provérbio Ute